Ano passado ouvi muito sobre Raphael Montes e seus livros e como gosto de mistérios e dos temas que ele aborda, fiquei curiosa para ler um romance do autor. Esta é uma crime-novel um tanto pesada. A história contada é a de Téo, um estudante de medicina que cuida da mãe paraplégica e tem uma personalidade só um pouquinho duvidosa (não quero te assustar, mas ele é amigo de um cadáver). Tudo muda quando o jovem introspectivo e metódico vai à um churrasco e conhece Clarice, dona de uma personalidade vibrante e o oposto de Téo. Então, pra resumir, Téo passa para stalker-mode, seguindo a garota por onde ela vai, a sequestra porque ele acha que ela e ele foram feitos um pro outro (só que ela ainda não percebeu isso) e "ei, por que não vamos para Teresópolis passar uns dias juntos? Vai ser lindo."
O ritmo do livro é ótimo no começo, tudo acontece rapidamente, e em 5 capítulos, que não são muito longos, Téo já possui Clarice na palma de sua mão, ou dentro de uma mala, tanto faz.
Melhor amar sem ser correspondido do que não amar. (pag. 187)
A parte de Teresópolis foi a parte que se arrastou um pouco, mas assim que certas coisas começam a acontecer e ficar mais brutais, a trama pega um ritmo que faz ser impossível largar até terminar.
Estava no ônibus lendo uma parte sangrenta da história, e logo eu que sempre me gabei por assistir Jogos Mortais e não ter que vomitar, senti uma sensação estranha e, com o balanço do ônibus, tive que parar de ler pra não correr o risco. Aliás, esse livro me causou algumas emoções exageradas: em uma parte, quase no fim, joguei ele longe e xinguei o escritor mentalmente, depois voltei correndo pra ver se não tinha amassado (depois saí de perto outra vez e fui ter pensamentos de raiva em outro lugar). Apesar disso, não vi problemas com o final, ele foi bem satisfatório. O que me deixou profundamente irritada a ponto de jogar o livro foram as ações medonhas do Téo quando a história atinge o clímax. Eu queria entrar no livro e matar ele.
Existem muitos detalhes sórdidos da vida do Téo, explorados durante a história, que deixaram ele muito real e automaticamente mais assustador. O que mais me chamou atenção nesse aspecto, foi que a "sorte" que Téo tem em suas empreitadas malignas (sem julgamento aqui) reflete de forma sombria a sociedade brasileira, em que a corrupção é tão difundida que me faz pensar se o Téo é tão ruim assim comparado aos outros pequenos vilões mascarados, ou se ele só é mais direto pra conseguir o que quer.
É uma daquelas histórias que ficam na sua cabeça por um tempo. Depois de terminar de ler, eu lembrava do livro e ainda me vinham umas sensações estranhas, às vezes escutava uma música romântica e pensava nas maneiras distorcidas que o Téo "amava." Estragou maior parte das músicas que eu ouvi durante uma semana ou mais, pra ser sincera.
E ainda tem um detalhe que me deixou um pouco desconfortável. Tem um apelido que o Téo dá pra Clarice, que é exatamente como meu pai gostava de me chamar quando eu era criança. Como se já não fosse o suficiente ver a menina sofrer, tenho que ter algo particular em comum com ela, pra sofrer ainda mais. Ainda bem que tenho uma relação masoquista com a literatura.
Dias Perfeitos definitivamente não deixou indiferença. Foi uma surpresa muito boa quando, no final, eu percebi que o livro era bom mesmo e que o pessoal não tinha exagerado.
Dados do Livro:
Editora: Companhia das Letras
Número de Paginas : 274
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